Estamos a atravessar uma das priores crises económicas e sociais das últimas décadas! E apesar de nem
sequer conseguirmos vislumbrar, a médio trecho, a salvação, continuamos a sentir-nos diariamente tentados por esse novo Diabo: o
Gadget.
(Eu sei, eu sei, lá
estamos nós a utilizar o nome inglês quando temos palavras
portuguesas para o fazer. Mas convenhamos que se eu estivesse a
afirmar que o novo diabo se chama Dispositivo!!! não teria o mesmo
impacto)
Tal como o verdadeiro
Diabo, também o Gadget tem outros nomes: Gizmo, Widget, Gimmick,
Waldo :), e qual deles o mais assustador (brrrrrr).
Como qualquer boa
tentação, esta aparece em formas bonitas, simples, sofisticadas e
trás consigo a promessa de horas bem passadas e livres das
complicações do dia-a-dia.
Telemóveis, Smartphones,
Netbooks, Portáteis, Smart TV, Tablets, ebooks, ipads, uma lista interminável de engenhocas que têm como única razão de existir
tentar-nos até que não tenhamos outro remédio senão ceder aos
seus caprichos.
Confesso que ultimamente
me sinto muito tentado a adquirir um desses Gadgets, mais
especificamente um Tablet.
Ando a navegar pela net à
procura dos melhores e mais baratos, a ver as características que
melhor se adaptam às minhas necessidades. Ando pelas lojas a
tocar-lhes, ainda um pouco a medo, como uma criança que vê um
objeto brilhante e quer brincar com ele, mas tem receio de o
estragar.
Faço contas e justifico
na minha cabeça que as combinações preço/qualidade de alguns
são ótimos negócios.
E já convencido falo com
a minha mulher Sara (a quem chamo de "minha contabilista") para a
persuadir de que não é dinheiro deitado fora, que é um investimento
bom para o presente e, quiçá, o futuro.
E ela limita-se a
perguntar: para que serve o Tablet? Eu gaguejo e tento encontrar nas
muitas justificações que previamente concebi, uma que seja
suficientemente convincente.
E não é que não
encontro nenhuma razão que justifique, numa altura de incerteza
económica, em que todo o dinheiro é pouco para garantir que
conseguiremos passar incólumes este péssimo momento que Portugal
atravessa, comprar um Widget!
Adorável como só ela, a
Sara diz: nós não somos nenhuns miseráveis! Podemos comprar o Tablet e nem sentir falta do dinheiro que ele custa!
Mas aquela pergunta
inicial funcionou como um exorcismo. Como se estivesse possuído por
um ser estranho e diabólico, que dominava a minha mente e os meus
desejos.
E liberto do espírito
maligno que me dominava, encontro a resposta para dar à Sara: Não
serve para nada! Pelo menos nada de importante e que faça diferença
na nossa vida.
Como eu, imagino que
milhares de outras pessoas se encontram possuídas por esse espírito
diabólico, pois não encontro outra razão para o volume de venda de
Gimmicks não ter diminuído em Portugal.
Não encontro outra razão
para todos os dias saírem novos Gadgets que vêm fazer exatamente o
mesmo que os que já cá estavam e o pessoal continuar a comprar.
Não encontro outra razão
para os preços dos Widgets não baixarem e deixarem de transmitir a
imagem para o exterior de que são uma relíquia dos deuses.
Este é o Diabo dos Tempos Modernos e não me parece que exista religião em condições
de o combater, até porque alguns desses Gizmos
nos ajudam a encontrar e a espalhar a palavra de Deus.
Contradição:
Tendo
eu tomado consciência de que existe esta tentação e de que ela é
maligna estarei eu livre dela?
Infelizmente
não! Continuo cheio de vontade de comprar, de mexer, de navegar, de apanhar a
pedrada que a posse dos Gadgets dá.
O
que consegui com esta tomada de consciência foi ter paciência.
Paciência para esperar que os preços desçam ou que o meu dinheiro
aumente...
Waldo dum raio!
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